sexta-feira, março 14, 2008

"Uma equipa. Um texto. Um blog"

Queria andar de casal mas tinha as mangas pequenas…

O VARREDOR DE RUAS

Vagueando pelas ruas, antes dos primeiros raios de sol acordarem a cidade, escutava a melodia da natureza que ressoava o meu pensar… Quem sou?
As ruas espelhavam o movimento de um dia passado no amarrotar de um lenço, no pisar de mais uma beata, no esvaziar de garrafas largadas em muros, outrora mesas de conversas banais. Faltavam poucas horas para o ressurgir dos olhares apressados que me fitam sem me ver, ou vendo, não vêem quem sou, mas apenas a vassoura que seguro nas mãos. Perguntava-me o que fazia eu ali, se faria sentido o que dava de mim naquele lugar. Perguntava, vagueava em respostas sem perguntas, máscaras apenas colocadas por não ter de suportar a dor de ser diferente. Perguntava quantas mais teria de colocar para poder ser “alguém”. Sair de casa pensando em voltar. Horários que não aceitam amizades. Janelas fechadas aos sonhos. Portas escancaradas ao “sempre mais do mesmo”. Não sei se ainda quero sonhar.
As cores do dia trazem até mim o olhar inocente de uma criança, o olhar de quem acabou de acordar mas de quem está atento ao mais pequeno pormenor, fita os meus olhos, diz “bom dia senhor”, baixa-se, apanha um lenço amarrotado, acrescenta: “esqueceu este papel, posso por ai no seu caixote?”. Sorriu para mim, olhar inocente de quem não conhece o outro mundo, olhar de quem sonha, de quem vê. Não lembrava da última vez que alguém me sorrira na rua, ou que sequer reparasse que, porventura, não era o vento que limpava todo o lixo que teimam em semear todos os dias.
Este sou eu, mero solitário das minhas ruas…sim, as minha ruas, sou eu que as cuido, são elas que me cativam… Porquê ser algo mais? Porquê querer ser visto por todos, não ser distinguido entre eles, quando posso ser eu, ainda que diferente, a poder vê-los a todos. E agora lembro que, certo dia, estava eu vagueando pelas ruas antes dos primeiros raios de sol acordarem a cidade, duvidei de quem era e de quem queria ser, duvidei do que fazia, do que dava de mim, duvidava desta minha capacidade de sonhar… e hoje sonho, o que um dia aprendi com uma criança, o sonho de dar-me eternamente…
Afinal, eu sou apenas um simples varredor de ruas… Já pensei tantas outras palavras…

Equipa do Liceu

2 comentários:

Anónimo disse...

Quantas são as vezes em que, na nossa vida monótona e egoísta, sonhamos fazer tanto para os outros quanto um varredor de ruas faz?

Anónimo disse...

provavelmente tantas vezes quantas vezes olhamos para ele e lhe sorrimos...
e agora pergunto eu, "quantas sao as vezes"?

Alguma vez agradeceram a um ?Agradecer simplesmente porque sim... quantas vezes...(?)Pensamos "tantas outras palavras" *